Estavámos lá, a Juliana e eu, em nosso primeiro dia de casados, no aeroporto. Acabávamos de chegar em Londres, exaustos após 12 horas de vôo. Detalhe: a Maria, mãe de um amigo nosso, o Sandro que mora em Londres, estava com a gente, pois aproveitou a companhia pois não falava inglês (essa é uma outra história, que merece um post depois)
Como eu já tinha ido para Londres em duas outras ocasiões, conhecia bem como funcionava a imigração. Nem por isso estava tranquilo - como sempre, eu estava muuuito tenso.
Bem em frente aos guichês de entrada, tem umas cadeirinhas, onde eles colocavam as pessoas que seriam DEPORTADAS. Eu estava morrendo de medo de
"sentar lá, Cláudia".
Pois bem, chegou a nossa vez. A Maria teve que ir sozinha para o outro guichê, mas eu pedi que tivesse uma intérprete de português para ajudá-la, antes dela ir.
No meu guichê, conversando no meu inglezinho mais sem-vergonha possível, falei que havíamos nos casado na noite anterior e que estávamos em lua-de-mel, aproveitando para conhecer Londres.
O atendente da imigração, gordinho ruivo (que apelidei Cenourinha) não muito simpático (assim como boa parte dos britânicos), perguntou: "OK, onde está a certidão de casamento?". Logo respondi: "Nos casamos ontem no civil e religioso, e no Brasil demora cerca de 15 dias para a certidão ficar pronta".
"Mas, como você quer que eu acredite que vocês se casaram, se não tem nenhuma prova?". Retrucou o Cenourinha.
Eu fiquei sem saber o que falar. Quando de repente, MARIA sai do seu guichê e vem tentar conversar comigo. Foi a gota-d'água. A Polícia pegou a Maria pelos braços e a puxou. Cenourinha gritou: "Tirem essa mulher negra daqui!". Aí começou a bagunça....
"Quem é essa mulher negra?"Perguntou gritando o Cenourinha.
"É a Maria, que veio conosco para visitar seu filho que mora aqui", respondi.
O Cenourinha mudou de cor, tornando-se o Beterrabinha... e gritou: SENTEM-SE ALI NAQUELES BANCOS.
O que eu mais temia me ocorreu, como disse Jó. Sentamos nos banquinhos. Eu já coloquei a mão na cabeça (que vai começaaaar... o Rebolation-tion... não, não foi isso) e me desesperei. "Eu não tinha falado pra você, Ju, que se a gente sentasse nesses banquinhos a gente ia ser deportado??? Pois é, LASCOU, FIA".
Ficamos ali por um tempo, até a fila de entrevistas acabar, e mais 2 pessoas (além da Maria), se juntarem a nós.
Dali, nos levaram para uma sala fechada por fora, sem conforto nenhum, gelada, sem comida, água, janelas, nada... ESTÁVAMOS PRESOS PELA POLÍCIA FEDERAL BRITÂNICA.
Conosco estavam: Maria (mãe do Sandro), uma garota de programa e um evangélico que estava tentando a vida em Londres.
Dali para a frente, me separaram da Juliana. Tiraram fotos minhas em uma parede com marcações de altura, segurando uma plaquinha com o meu nome e dados de passaporte. Uma foto de frente, duas fotos de lado (esquerda e direita) Depois, me levaram para uma sala com uma mesa e algumas cadeiras, todas presas no chão por correntes. Ali já estavam me esperando a agente da Polícia Federal Britânica e uma portuguesa, para ser intérprete. Já percebi que a coisa ia ser pesada.
Depois de uma sééééérie de perguntas absurdas (você possui armas brancas, armas de fogo, material perfuro-cortante, drogas ilícitas, material explosivo, de conteúdo sexual e pedófilo em sua bagagem?), me levaram de volta para a sala. Antes que eu pudesse trocar uma palavra sequer com a Juliana, a tiraram da sala e fizeram o mesmo com ela...
Alguns minutos depois, volta a Juliana, e eu sou retirado novamente. Isso se repetiu por umas 8 vezes. Nesse meio tempo, eles levaram a GP (garota de programa), o evangélico e a Maria, para o "ensaio fotográfico"e entrevistas.
Detalhe que eu esqueci: toda a nossa bagagem, celular, carteira, dinheiro, documentos, foram retidos por eles. Só tinhamos as roupas do corpo (nem a dignidade a gente tinha mais).
Depois de 8 horas e muitas perguntas, gritos, humilhações, batidas na mesa (não batidas de beber, mas PORRADA mesmo.. a mulher era meio "Gadú"), a Juliana lembrou que tinha um recibo de aluguel de som, para a festa, dentro de sua bolsa de mão, assinado, com a data e com o nome dela. Eles aceitaram!!! Por um milagre fomos liberados, Juliana e eu.
A garota de programa estava no aeroporto errado (estávamos em Heatrow, e ela deveria ter ido para Gatwick) e foi liberada, o evangélico mentiu que estava só indo passear, que queria conhecer a TORRE EIFFEL em Londres, e foi deportado...
Mas... e a Maria? A Maria tinha levado um pacote IMENSO de cigarros, e ficou uma horinha a mais do que a gente, pra tentar se explicar... o cigarro foi detido.
Já tendo uma crise de pânico lá fora, vemos a Maria, cansadíssima, aparecer na nossa frente. Chorei até.
Mas, enfim, não precisamos voltar para o Brasil perdendo uma baita grana. Iríamos, enfim, curtir nossa Lua-de-Mel em Lodres!! (sem a Maria, que foi para a casa do Sandro!!!)