terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Quando o "Zé do Norte" morreu

Eu estava guardando esse post pra algum dia. Não sabia qual seria esse dia, mas acabei de assistir a um vídeo (que posto no final), e me inspirei.

No dia 07 de julho de 1995 o Zé do Norte, meu pai, morreu.

Eu tinha 17 anos. Ele sempre dizia que quando eu fizesse 18, ele me daria o meu primeiro carro. Faltando 20 dias para isso, ele se foi.

A morte é algo natural, mas ao mesmo tempo não é. Fomos feitos para viver eternamente, a imagem e semelhança de Deus, por isso não a aceitamos. Ela rasga. Ela arranca um pedaço da gente. Enquanto ela visita a casa do vizinho, ela é triste. Quando ela entra na nossa casa, ela é dilacerante.

Nunca tive um relacionamento profundo com o meu pai. Talvez pelo alcoolismo dele. Ele nunca estava "são", sempre bêbado. E quando não estava bêbado, estava depressivo. Isso me dava muita raiva, eu o rejeitava por isso. Eu o queria tanto, que o rejeitava. Estranho isso, né? Mas era assim.

E por isso, eu nunca disse que o amava. Talvez quando criança, não sei. Mas conscientemente eu não me lembro. Mas eu o amava sim. Com todas as minhas forças. Era gostoso quando ele ria alto, de boca aberta. Era maravilhoso ver seus olhos marejados de emoção. Eles ficavam verdes, bem verdes.

Mas eram tão poucas as vezes que isso acontecia. O vício o roubou de nós. Fez com que ele sofresse seu primeiro infarto.

Sozinho em casa, desentupindo o encanamento do bar, que sempre dava problemas. Ele estava sujo de esgoto, passando mal. Subiu para casa e se deitou. Um menino da vizinhança, o Gil, mandado por Deus, foi até o quarto dele, não sei por que, e instintivamente fez a massagem cardíaca que o manteve vivo até a minha mãe chegar e chamar o resgate.  Cheguei do trabalho e vi o bar fechado. Minha mãe na janela, lá de cima me contou um pouco do que havia acontecido. Naquela semana eu fui visitá-lo no hospital. Ele estava diferente, sóbrio. O médico o deu alta e o proibiu de beber e fumar.

Dali até o segundo infarto, não lembro quantos meses foram. Sei que ele não tomava nem sorvete de "rum com passas", de medo. Mas não largou o cigarro. Mesmo assim, a partir dali, o vício começou a me dar um pai que eu nunca havia conhecido. Foi muito bom.

Até o segundo infarto, que o deixou mais um bom tempo internado.  Eu tinha uma folga na sexta-feira, mas ele receberia alta na segunda. Resolvi ir buscar as minhas lentes de contato, que já estavam prontas.

No domingo antes de receber alta, ele teve um segundo infarto. Eu estava na igreja, tocando bateria. Minha mãe foi chamada ao hospital, com urgência.

Enquanto cantávamos "O nome de Jesus" (Adhemar de Campos), fiquei sabendo que ele não estava bem. Cantei bem forte naquela parte "o nome de Jesus levanta os mortos, o ome de Jesus sara os feridos".

Me chamaram lá fora para entregar a prótese dentária dele, enrolada em um paninho. Mas ele não ficava nunca na vida sem aquela prótese. Ele havia acabado de falecer.

Nunca mais quis cantar aquela música "mentirosa". Ué, o nome de Jesus não é poderoso? Por que não foi dessa vez? Pensei.

Meu pai aceitou Jesus naquela semana.

Hoje eu entendo os caminhos de Deus. Ele tem ciúmes de mim, diz a Palavra. Ele levou meu pai pra bem perto dele. Lá, eu terei o meu pai, comigo, eternamente.

http://www.youtube.com/watch?v=x4QT6z2Du-c&feature=youtube_gdata_player

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