segunda-feira, 25 de julho de 2011

"O homem-das-cavernas-assassino-das-correntes-pesadas, e seus companheiros maquiavélicos".

Onde eu morava tinha um cara, dono de bar, que parecia um homem das cavernas. Todas as crianças do bairro tinham medo dele. Ele tinha um cabelo desgrenhado, enorme (para cima), tipo um black power (só que podre). Dentes estranhos, tortos, amarelados e cheios de tártaro. Tinha uma barba enorme. Enfim, ele era horrível. Nem sei até hoje, como as pessoas frequentavam aquele bar.

Uma vez, tinha acabado a energia elétrica no bairro, e ficamos eu, a minha irmã Eliane, a Sheila (bem magrelinha, de dentes enormes) e a prima da Sheila, a Helena (gordinha), sentados na escada de casa, conversando...

A noite foi chegando, mas a energia não... tudo estava ficando muito escuro. A minha casa ficava bem no final de uma grande subida, e a gente adorava ficar olhando as pessoas e carros que passavam por ali.

Vimos surgir no meio da escuridão o tão temido "homem das cavernas".  Ele foi subindo, e aos poucos vimos que ele não estava sozinho... estava com mais dois homens.

A gente já começou a ficar apreensivo com aquela visão monstruosa, quando vimos que ele trazia nas mãos uma corrente, daquelas grossas e pesadas. O barulho das correntes, enquanto ele subia, ficava mais perto. A gente começou a torcer que ele virasse a rua e continuasse o seu caminho, mas ele foi se aproximando, aproximando... quando DE REPENTE, ele gritou: "Ô"!!

Não deu tempo nem do cara terminar a frase, a gente deu um grito, e subiu correndo as escadas. Olhamos para trás e vimos a Helena ainda sentada, em estado de choque. Parecia aquelas coisas de filme de terror, que sempre uma menina morre antes de todos os outros...

A gente gritava: "Helena, sobe!!! Helena, você tem que se salvar!!!! " Mas a Helena, bem gordinha, não esboçava nenhuma reação.

Pensamos: "meu Deus, vamos ter que deixar a Helena morrer... mas foi ela que escolheu. Antes ela do que eu".

E deixamos a Helena para trás, entregue à própria sorte.

Entramos em casa correndo, mas QUEM DISSE QUE A GENTE CONSEGUIA ENCONTRAR A CHAVE DA PORTA??? No desespero, começamos a arrastar o fogão, geladeira, armário, tudo para a frente da porta, para nos livrar do "homem-das-cavernas-assassino-das-correntes-pesadas, e seus companheiros maquiavélicos".

A minha mãe não entendia nada, e a gente não conseguia explicar. Só conseguíamos chorar pela morte da Helena, que tinha acabado de ser assassinada friamente, apanhando de corrente.

Passaram-se alguns eternos minutos, e ouvimos alguém batendo na porta. Nós seríamos os próximos a  encontrar uma morte trágica e cruel. Mas não eram os assassinos malditos...

Era a Helena, ainda viva. Tiramos os móveis da frente da porta, para "socorrer a Helena, que devia estar gravemente ferida, mas conseguiu sobreviver ao ataque dos monstros".
Não, ela não estava ferida. E nos disse que o "homem das cavernas"tinha vindo apenas para pegar o nosso cachorro, o "Fofão", garanhão famoso nas redondezas por seus lindos filhotes vira-latas, para ter "uma noite de prazer erótico"com a cadela deles, que estava em seu "período fértil".

Por isso as correntes. Por isso, os amigos. Por isso o grito: Ô. E por isso, Helena ainda estava viva.


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