terça-feira, 22 de março de 2011

O dia que a Viviane quis ser a Cinderela

Teve uma época em que a gente montou uma "Companhia de Teatro". A minha irmã, Eliane e eu éramos os diretores desse grupo. 




Por conta disso, os melhores papéis eram nossos, sempre. A gente se apresentava toda semana na nossa rua, em frente ao bar do meu pai. A gente colocava lençol, pra fazer o papel de cortina. e usava as roupas da minha mãe e do meu pai mesmo, como figurino.

Uma vez decidimos encenar a "Cinderela". Eu era o príncipe, a Eliane a Cinderela, a Valéria (irmã da Viviane) era a madrasta e a Viviane era uma das irmãs feias da Cinderela.

Ela era gordinha, meio encardidinha, e não gostava de pentear o cabelo. Características perfeitas para o papel!

A peça ia se desenrolando ali mesmo, na apresentação, sem ensaio. Como sabíamos a história de cor, íamos fazendo assim, intuitivamente.

Assim, chegou um dos momentos cruciais da peça: a prova do Sapatinho de Cristal.

Eu, o Príncipe, convoquei todas as moças do reino para o evento, e fui experimentando o sapato em cada uma das meninas... só faltava uma menina, para chegar na Eliane e finalizarmos com chave de ouro a apresentação. A Viviane era a penúltima menina a experimentar o sapato.

Quando coloquei o sapato nela, o dito-cujo coube facinho. Aí, no meio da peça ela gritou: "SERVIU! EU SOU A PRINCESA!" 

Todos ficamos chocados! A Viviane estava sabotando a nossa "premiere"! Falei baixinho no ouvido dela: "Viviane, cala a boca... você não é a princesa, é a irmã feia. A princesa é a Eliane". 

Indignada, Viviane indagou, em frente ao público presente: "Por que eu não posso ser a princesa? O sapato serviu... eu sou a princesa sim!". 

Até que chegamos à triste realidade, e tivemos que revelar: "Viviane, você não pode ser a princesa, porque você  gorda. A Eliane é bonita e magra, e desde o começo, ela é a princesa". 

Demos um jeito de tirar a Viviane de cena, e terminamos a peça. O Príncipe carregando a Cinderela de verdade nos braços. E os ajudantes de palco carregando a Viviane para um lugar onde ninguém ouvisse seus gritos de revolta e indignação.


imagens: artista plástica norte-americana Aly Bellissimo 

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