segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

(post extra do dia) Zé do Norte e o Karmann Ghia

Não, o Karmann Ghia não era do meu pai. Ele ainda tinha a Belina.

Quem tinha o Karmann era um cara que, prá exibir seu brinquedinho por aí, estacionou em frente a um bar, e ficou tomando uma cerveja, enquanto todos olhavam para o seu carro vermelho tinindo de vermelho.


Mal sabia ele que, naquele dia, meu pai estava "entorpecido de alcool", dirigindo loucamente sua belina verde, com sua habilitação comprada, e que aquela rua estava em seu caminho.

Resumindo: meu pai bateu no Karmann Ghia do cara, empurrando o carro para baixo do caminhão, que estava estacionado alguns metros a frente. A belina "se machucou". O Karmann Ghia, deu perda total.

O exibidinho saiu do bar, lágrimas nos olhos, desesperado tentando entender o que aconteceu: "Como pode bater em um carro estacionado, seu idiota??", pergunta o ex-dono do automóvel de colecionador.
"Idiota é você, que fica andando com um carro caro desses na rua. Esse carro é prá deixar em casa".

Matéria da Revista TRIP:


"CABEÇA PRA FORA

O Karmann-Ghia conversível é uma raridade que vale ouro: sobraram apenas 115 no Brasil"

Eram 116, até um deles se encontrar com o meu pai.

foto: revista Trip

Junior e a MONGA

Vocês já ouviram falar na Monga ?  Monga é uma mulher que vira macaca. No filme "Lisbela e o Prisioneiro" aparece uma cena contando o "segredo da Monga".

Um dia, eu tinha uns 5 ou 6 anos, apareceu o "Ônibus da Monga" no meu bairro. Era um ônibus desses cde viagem mesmo, só que com todas as janelas lacradas e escuras, prá a gente não ver o que acontecia lá dentro.

Aí eles faziam um show com uma mulher de biquini, dentro de uma jaula, que se tornava macaca. Veja no vídeo como funciona:






Pois é... todos na rua falavam que a Monga tinha comido a orelha de um menino, arrancado o braço de outro... e com esses boatos, a cada dia mais a fila para ver a mulher macaca aumentava. Lembro que custava uma moeda de cinquenta centavos de cruzeiro, uma moeda enorme, que todas as crianças colocavam na boca e engasgavam. Eu enchi o saco da minha mãe durante dias, e ela falava que não ia desperdiçar dinheiro ,porque eu não ia aguentar ficar lá dentro vendo a monstra. Vencida pelo cansaço, resolveu me levar mas fez a ameaça: "Eu vou te levar, seu cabeçudo, mas você vai ter que ficar até o fim". Ok, com medo, mas sem vergonha, eu aceitei.

Lá estávamos nós dois, debaixo de sol, naquela fila enorme... a cada multidão que saía chorando, gritando, meu coração ficava mais apertado. Mas eu não podia perder aquilo, tinha que ser forte.

Chegou a nossa vez... naquele ônibus escuro, fedido e quente, só dava para ver uma jaula no fundo, com uma moça triste, de biquini dentro. Ela tinha cabelos curtos, e não nos olhava no rosto.

Aí começa a narração: "Ela é uma  moça linda, delicada, mas quando fica nervosa, se torna a Monga - a mulher-macaca! Não se preocupem, a jaula é forte, resistente, e ela não consegue sair".
Mas a gente já sabia que era mentira. Ela ia sair de lá e acabar com a vida de algum de nós.

As luzes do ônibus escurecem mais, mais e mais, até que o único lugar iluminado naquele momento era a jaula da Monga. De repente, ela começa a se transformar... vai ficando escura... pelos vão crescendo em seu corpo...

Eu fui ficando desesperado, em total pânico, e comecei a soltar a mão da minha mãe. Ela não soltava a minha mão de jeito nenhum. Aí se abaixou e disse: "Você me fez gastar dinheiro e te trazer aqui, vai ficar até o fim". Era a minha sentença de morte. Eu ia morrer ali, junto com a minha mãe e com todas aquelas pessoas. Já estava definido o meu futuro, na minha grande cabeça de criança. Mas eu não podia desistir. Resolvi lutar pela minha sobrevivência: Mordi a mão da minha mãe, mas mordi tão forte, que ela acabou soltando.

Só que era tarde demais. A Monga já tinha completado a sua transformação, e com toda a sua fúria e força, arrancou as grades de sua jaula e veio em nossa direção, buscando sangue, carne humana, a orelha ou o braço de alguém (que eu tinha certeza que seria EU).

Todos correram ao mesmo tempo, num misto de pânico, desespero e luta pela vida. Todos corremos em direção à porta, e ficamos entalados. Naquele momento eu já não sabia mais onde estava a minha mãe, e me conformava em tê-la perdido para sempre... ninguém saía, ninguém entrava, de tão entalado que estávamos na porta... Alguém nos empurra forte, de dentro do ônibus para fora, e todos caímos na rua. Minha mãe sai, toda suada, dando risada... me pega pela mão e vamos embora...

No dia seguinte, mais notícias de um caso bárbaro: a Monga havia arrancado o nariz de um menino.

Ainda bem que não era o meu!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

(post extra do dia) Junior e a Vovó Traficante

Como eu já disse, o meu pai tinha a Casa do Norte, que vendia carne seca, comidas típicas, e também grãos e farináceos (eu sou inteligente, sei palavras difíceis também).

Eu tinha uns 14 anos, já era cabeludo, e não penteava os cabelos - nem lavava, prá falar a verdade. Sempre gostei de andar de pés descalços (já contei num post anterior), e naquela noite, resolvi ir até a padaria comprar pão assim, sem nada no pé. Morrendo de sono, descabelado, barbudo, de bermuda velha, descalço... uma versão Caetano Veloso Meets Los Hermanos.

Chegando na padaria, estava fechada. Fiz cara de raiva, soltei uns resmungos e fiz o caminho de volta prá casa... até dar de cara com a "vovó traficante" uma velhinha sem-vergonha que ficava traficando drogas na pracinha do Santa Tereza. A vovó me parou e perguntou: "Aí, meu, é você que tá vendendo umas #farinha?
Eu, tonto como sempre não associei o termo à velha safada, e, inocentemente respondi: "Olha, o meu pai tem uma Casa do Norte ali em cima. Vende farinha de rosca, de trigo, farinha de mandióca. Só que tá fechada agora, mas você po....". Nem terminei de falar, fui interrompido pelos xingos da velha, que me perguntava se tava de brincadeira com ela.

Respondi: "Tô falando sério, senhora! Ele vend...".
Me xingou de novo, virando as costas e indo embora... só entendi a pergunta da velha alguns metros depois, chegando em casa.

Velha sem-vergonha, #maconhêra, cheradôra de farinha! Eu sou puro!

Junior e a Manga

Eu não tenho habilitação prá dirigir - e nem quero.
Por isso, a minha vida inteira em SP foi dentro de ônibus e metrô. O bom é que lá, tem busão/metrô/trem prá qualquer lugar. Se quer conforto, vá de taxi!rsrsrs... mas vamos à história de hoje.

Uma vez eu estava voltando do trabalho super cansado, no ônibus. Na época eu trabalhava perto do CEAGESP, e no fim do dia já dá prá imaginar a cena: um monte de frutas, legumes e verduras estragadas no chão...

Lá estava eu no ônibus, morto de sono, pescando... quando o ônibus  passou na frente do CEAGESP, eu dei uma acordada, e mais a frente pude ver dois muleques #pilinféricos com mangas ENORMES, podres, se desmanchando nas mãos, olhando em direção ao ônibus.

Não deu tempo de fechar a janela. Um deles foi certeiro, jogando a manga em tempo hábil para que a mesma entrasse EXATAMENTE PELA MINHA JANELA! Só deu tempo de virar o rosto para o lado oposto e sentir todo aquele caldo de manga  podre, fedido e gelado em contato com o lado direito do meu rosto. Para a minha sorte (o que é incrível, pois sempre saio na pior, nestes casos) e para o azar de uma moça que dormia, de calça e blusa branca (provavelmente enfermeira ou estudante de enfermagem), a manga caiu no colo dela, que despertou assustada.

Só lembro que ela chorava, toda melecada. E eu procurava um papel, um jornal, qualquer coisa, prá limpar o meu rosto.

ps.: não encontrei nenhuma foto de alguém sujo de manga prá colocar...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

(post extra do dia) Junior e a enchente - em homenagem ao aniversário de SP

O post extra de hoje é em homenagem ao aniversário de São Paulo.

Quando eu tinha 13 anos, comecei a trabalhar de office boy, no bairro de Pinheiros. Só sabia o caminho de casa até o serviço e a vaga pedia alguém que soubesse andar em toda a cidade,  mas mesmo assim resolvi encarar o trabalho.

Uma vez, meu chefe esqueceu de pagar uma conta, e chegou desesperado no escritório, às 15 pras 4 da tarde, e jogou na minha mão a conta e um cheque, para eu correr no Banco Banespa (posso falar Banespa mesmo, pq já faliu, então não é propaganda) ... realmente, eu teria que correr mesmo.

PORÉM (quando tem um PORÉM, ainda mais em caixa alta, já viu que vem m*rd#): estava chovendo absurdamente em SP naquele dia (novidade) e a rua que me levaria ao banco estava alagada...

O chefe, nem aí, protegeu a conta e o cheque em uma embalagem plástica bem vedada, e me deu o guarda-chuva florido que pegou emprestado da mulher da limpeza, como se fosse adiantar alguma coisa... só se eu colocasse o guarda-chuva invertido prá boiar na água e fosse remando...

Mas, tá... lá vou eu, enfrentar a tal da #lectospirose (eu sei que é lePtospirose, mas na #pilinferia a gente fala com C mesmo).

Na rua Arthur de Azevedo lá vou eu: guarda-chuvinha sem vergonha, allstarzinho de tecido, calça jeans e camisetinha #simpres água na altura dos joelhos (existem águas que dão nos artelhos, existem águas que dão nos joelhoooossss, existem águas que dão nos lombos, mas tem águas mais fundas, EU SEEEEEEI). Pois é, naquele dia EU SOUBE.


Olho para a frente e vejo vindo em minha direção uma caminhonete, cheeeeeeeia de operários da construção civil (vulgos #pedreiros), na maior velocidade... parecia uma lancha! Por onde ela passava, deixava uma onda enorme... essa onda entrava nos quintais das casas, nas lojas.... e ia crescendo conforme se aproximava de mim. Os pedreiros iam à loucura, gritando em pleno estado de ÊXTASE  E PRAZER ERÓTICO!


Eu não tinha mais o que fazer.  Não dava prá correr, me esconder, subir em algum lugar. Era esperar acontecer  e fazer a #martasuplicy.

Quando aquela caminhonete passou por mim, me fez entender o que o David Quinlan quis dizer com a música "Águas Profundas". Toda aquela água veio para cima de mim, como um TSUNAMI,  o guarda-chuva foi todo para trás, a água me atingiu até nos cabelos. Fiquei totalmente molhado, afogado. Acho que até bebi água (afinal ,tinha que respirar, né).

Os pedreiros continuaram gritando, como se fossem vencedores, alcançando o seu objetivo - me humilhar em praça pública. Eles riam, e apontavam prá mim, sumindo naquele horizonte de água suja.

Joguei a franja molhada prá trás (é, antes do Restart eu já usava franja), e continuei o meu caminho em direção ao banco.

Chegando no banco, todo molhado, todos olhavam prá mim chocados. Eu devia estar fedendo... aguardei pouco tempo na fila, e na minha vez, abri com dificuldade o envelope, visto que estava com as mãos molhadas,  e retirei a conta e o cheque, sequinhos, protegidos, como eu queria estar.
A bancária olha para mim e fala: "O cheque está sem assinar".

Preciso falar mais alguma coisa?




FIM


foto: cambalacho.com

A pequena Bianca e os maconheiros

Dia desses eu contei uma história da Clara - a minha sobrinha mais nova - aí quase arrumei confusão com a Bianca - a mais velha. Ela também queria uma histórinha dela aqui. Pois bem, lá vai...

A minha mãe fazia reuniões de mulheres uma vez por semana em casa - a célula. Nesses encontros, cada uma contava suas dificuldades, liam a Bíblia e faziam orações.

Um dia, na ora dos pedidos de oração, cada uma fez o seu pedido, e a minha mãe deixou o dela por último.
Pediu que as irmãs orassem, pois tinha uns "maconheiros" que ficavam todos os dias em frente ao portão da sua casa, fumando maconha, e ela não queria mais isso, pois ficava com medo.  A Bianca, com 3 anos, só escutava.


Todas oraram, comeram o lanchinho, e no final a minha mãe foi acompanhá-las até o portão. Chegando lá, os maconheiros estavam todos a postos, e esconderam os cigarros assim que ouviram o barulho da mulherada descendo. Todas também disfarçaram que não perceberam nada, até que a Bianca grita, apontando para o grupo de rapazes: olha, irmãs, esses são os maconheiros que a minha vó falou!


A minha mãe não sabia onde enfiar a cara, coitada.

E naquele dia, descobrimos o que é resposta automática de oração. Eles não apareceram nunca mais!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ái meu pé!

Quando eu era criança, adorava andar de pés descalços... brincava na rua assim, ia até comprar pão na padaria descalço.

Um dia fomos para a casa da minha avó (aquela mesma avó da história do fusca no alagamento). Só que naquele dia a gente foi de ônibus.

Eram 2 ônibus e uma caminhada enorme. Minha mãe colocou o meu tenis "Montreal" marrom e bege, que eu adorava, só que naquele dia algo me incomodou. Eu devia ter uns 4 anos.

Durante a caminhada a pé, meus pés começaram a doer muito, eu nem conseguia pisar direito. Comecei a reclamar com a minha mãe, pedindo prá tirar o tênis. Ela, bem nervosa dizia: "Pára com isso menino, que te conheço... quando chegar na vó a gente tira". O tempo foi passando e eu chorando, com o pé ardendo. Lembro até qual pé que doía - o esquerdo - e consigo me lembrar da sensação de dor.

Chorei o caminho inteiro. e ela me puxando, nervosa... mas eu sempre fui muito manhoso, dengoso, e ela estava na razão dela.

Chegando na casa da minha avó, depois de muuuuuuuuuuuuuuuitos quarteirões, sentei no sofá e chorei, chorei... nem queria abraçar ninguém, só o que eu queria era tirar aquele tênis.

Cansada daquele chororô, a minha mãe veio e tirou meu tênis, para ver o que tanto me incomodava. Ao olhar dentro do tênis, o que ela encontrou: um PRENDEDOR DE ROUPAS.


Foi quando eu parei de chorar, de alívio, a minha mãe começou, de remorso.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O aniversário da Igreja

A Eliane e eu tínhamos, eu acho, ela: 10, eu:7 anos.

Estávamos arrumados, roupas novas e fomos para a igreja. Era culto de aniversário, então teria bolo!
A minha mãe não foi, mas como sempre, se voltássemos de uma festa sem bolo pra ela, ela não deixava a gente entrar em casa, tinha que voltar pra buscar...

As irmãs da igreja exageravam: sempre faziam aquele bolo enooooorme, quase do tamanho do bolo de aniversário de São Paulo! Sobrou muito, mas muito bolo, e aí os vizinhos da igreja, que nem a frequentavam, foram lá pegar pra levar pra casa.

Voltávamos, com nossos vizinhos e outros amigos, cada um com um "tapué" cheio de bolo coberto de glacê branco... no meio do caminho, no beco, encontramos um monte de meninos da "cumunidádji" com sacolas de plástico cheias de bolo.
Ficou um clima tipo faroeste, quando os dois cowboys se encontram e ficam olhando pro outro, esperando uma reação.

Aí um dos meninos gritou: "Me dá esse bolo!", e a Eliane, tomando a frente falou: "Não dou, vocês já tem".

Foi muito de repente. Não sei quem começou, se a Eliane ou o menino, mas quando vi, estávamos em meio a uma guerra de bolo!

Eles jogavam bolo na gente, a gente revidava. Era uma gritaria, como se fosse uma guerra mesmo... bolo prá todo lado. No chão, na gente, nos muros.

Acabado o bolo dos 2 lados, não tinhamos mais o que fazer. Eles saíram correndo, e a gente continuou o percurso até nossa casa. Chegamos imundos, melecados de glacê dos pés à cabeça. Naquele dia a minha mãe ficou sem bolo, mas não nos impediu de entrar.

Afinal, éramos guerreiros feridos, mas vencedores. Alguém tinha que cuidar de nós.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

(post extra do dia) As indagações de Clara Melissa

Quero apresentar prá vocês a minha sobrinha mais nova, Clara Melissa. Porque nordestino que é nordestino tem nome duplo, e coloca também nos seus filhos!

A Clara é uma das pessoínhas mais doces que conheço. Ela tem apenas 4 anos, mas um tamanhinho de quem tem 2. Carinhosa, delicada... tão delicada que dá medo de quebrar. Ela tem o cabelo bem fininho, enroladinho que parece algodão doce. Usa óculos... quer dizer, ela TEM que usar óculos, mas só usa para posar prá fotos (como nessa que me mandou pelo Orkut, que ilustra o blog), e adora andar de pés descalços. Canta e dança o tempo todo, e tem até composições do tipo "Jesus é bonito e legal".

É sobre os ombros dela (e da irmã dela, Bianca) que está a missão de manter viva a tradição "zedonortista".

Ela tem muitas tiradas engraçadas, mas fala coisas muito sérias também. Hoje resolvi contar uma historinha linda, que a minha mãe me contou.

Em um feriado do ano passado, estava o Rodrigo com sua namorada Ana Luiza, e o Bruno com sua namorada Gabe. Os dois casais naquele dengo todo, cada um do seu lado: "Owmmmghhmmm tchutchicutchi, neném! Eu telo Tota Tola! Dápaêu?"

Vendo isso, Clara chega para a avó e desabafa:

"O tio Digo tem um amor. O tio Buno tem um amor. Ah, eu queria taaanto ter um amor".

Diz isso e vai embora, colocar sua Barbie e seu Ken para se beijar.

Não dá vontade de bar uma bicuda pelas costas e jogar longe, de tanto amor?!?!?!

Zé do Norte e o alagamento

Lá estávamos nós: minha mãe, meu pai, minha irmã Eliane e eu. Em Santo Amaro - bairro de SP que já falei aqui antes - indo em direção à casa da minha "vó Bia", mãe da minha mãe, no bairro do Grajaú. Não pense que o Grajaú de SP é chique, como o do Rio de Janeiro. É #pilinferia.


Naquele tempo não era esse caos que é hoje quando chove... mas já tava começando a ficar ruim. Perto da Avenida Guido Calói,  sempre enchia.

Estávamos - Eliane e eu - muito felizes, pois o melhor acontecimento de nossas vidas sempre era estar com a nossa avó. De meias novas, usadas pela primeira vez prá passear, a gente brincava sem os tênis, em cima do banco traseiro do Fuscão Branco do meu pai. Era como se não houvesse amanhã... se fechar os olhos, consigo lembrar exatamente da cena, do cheiro, das risadas (fui romântico agora, né... mas deixa eu voltar ao normal, porque romantismo não é a proposta desse blog).

À nossa frente, um dos obstáculos: um alagamento.
Dentro do carro, um obstáculo ainda maior: meu pai bêbado, naquela vibe Superman comum a todos os bêbados.

"Zé, vamos fazer o retorno e procurar outro caminho", disse q minha mãe.
"Que nada, eu passo facinho!", respondeu, auto-confiante, Zé do Norte.

 Aproveito para lembrar que uma das primeiras coisas que o meu pai fez ao chegar em SP foi comprar sua habilitação. Comprar, foi comprar mesmo!!! Ele não estudou, pagou prá ter mesmo


Zé do Norte respira fundo, da umas "aceleradas lindas" no fuca e vai forte... no meio do caminho, dentro do alagamento, o carro morre. Eliane e eu olhamos para baixo, quando vemos a água invadindo aos poucos o carro. A água não parava de subir, e começava a chegar na altura do banco... AMEAÇANDO NOSSAS MEIAS NOVAS!!!!! A gente gritava desesperadamente, e o meu pai falava: "Tá tudo sobre controle, eu sei o que estou fazendo!".

Sabia mesmo: estava fazendo mais uma de suas cagadas. Graças a Deus, perto dali tinha um bar, e um grupo de rapazes que viram a cena, se comoveram, e entraram na água, empurrando o carro do meu pai, que engazopou e teve que ficar por ali mesmo...

Nem lembro o que fizemos depois, se deixamos o carro lá e fomos embora, se ficamos esperando reboque. Só lembro que as nossas meínhas novas não se molharam. Graças a Deus!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Zé do Norte e o futebol

Antes de começar a escrever, devo informar: o meu pai não gostava de futebol. NUNCA vi meu pai em frente à TV gritando um "GOOOOL" em algum jogo. Nunca vi meu pai jogando futebol. Ele nunca me deu uma bola de presente. Ah, e como todo mundo que não gosta de futebol, ele era "São Paulino".

Mesmo assim, no bairro onde ele tinha a casa do norte (Jardim Macedônia - Capão Redondo/SP... não preciso falar mais nada, né...), tinha um time de futebol, que não lembro o nome agora... E O MEU PAI ERA O PRESIDENTE DE HONRA DO TIME!

Sem ao menos saber a escalação do time, sem saber definir um "impedimento" ou até mesmo onde cada time deveria fazer o gol, sempre que o time dele jogava, lá estava ele. De terno branco, camisa vinho, com pelo menos 4 botões abertos (camisa normalmente tem 5 ou 6), correntes de ouro, sapato Oxford vinho de bico fino  e um anel com pedra vermelha (ele dizia que era anel de advogado, mas ele só tinha até a 4ª série fundamental).

Não pessoal, eu não me enganei. Ele ia assim para o campo. Campo de lama, sem arquibancada, campão mesmo... de "pilinferia".  O terno era tão branco (e ele ficava doido se sujasse) que parecia uma tapioca.



Mas não para por aí... para chegar ao campo, o pessoal do time passava na minha casa, com uma caminhonete, todos os jogadores na caçamba... e ele não ia na cabine não... Zé do Norte era um homem do povo, e como todo homem do povo, lá estava ele, na caçamba, de terno branco e todos os outros detalhes que citei acima.  Ia e voltava na caminhonete, com seus "pupilos" amados. Aclamado por toda uma geração de jogadores de final de semana.

Todo orgulhoso por ser presidente do time do Jardim Macedônia!


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Belina verde do meu pai

Dá prá perceber que tudo o que o meu pai tinha, tinha uma cor característica. Cueca roxa, belina verde. Pois bem, ele tinha uma belina verde que eu achava o máximo!

Eu achava que ele era rico, por causa da belina, que era um carrão, e tinha uma traseira enorme prá a gente brincar... uma vez estávamos eu, a minha irmã Eliane e a minha prima Cristiane, atrás da belina, indo para a casa do norte. Não lembro o por que, mas naquele dia decidimos ir todos de roupa branca ( idiotice coisa de criança).

Pois bem, estávamos todos felizes na traseira do carro do meu pai rico, quando chegamos em uma subida. Belinona véia de guerra, meu pai deu um tranco prá subir, só que foi tão forte, que a porta traseira (do porta-malas) abriu, e a gente caiu na rua! Só que o meu pai não percebeu, então continuou dirigindo, e a gente gritando  e correndo atrás do carro! Sei que chegamos na casa do norte (que ficava no alto dessa subida), meu pai parou o carro e nem deu conta de que, o final do caminho, percorremos todo a pé, correndo atrás do carro!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A cueca roxa do meu pai

Meu pai adorava ficar só de cueca. Volta e meia, eu com meus amigos e amigas em casa, aparecia Zé do Norte cambaleando, de cueca. E fazia questão de cumprimentar todo mundo! De cueca. Imagina a cara dos meus amigos?

Ele tinha cuecas de várias cores (várias mesmo: mostarda, verde limão...), mas a preferida dele era uma roxa, que ele usava com as meias roxas sociais, pra combinar, né? Afinal, de onde você acha que veio o meu estilo e bom gosto para roupas?

Mas não era só em casa que isso acontecia. Quando acontecia alguma coisa na rua - coisas do cotidiano, como um tiroteio, um assassinato, um assalto, enchente, briga de faca - ele logo saía pra ver. De cueca e meia!

TEra só acontecer um "forfé" na rua que entrava em ação: descia as escadas e ficava parado, não no portão, mas NA RUA: pézinho de lado, mão na cintura, cara de espanto, comentando o ocorrido com os outros vizinhos, com a maior naturalidade, como se cueca não fosse UNDERware (roupa de dentro, para os leigos).

Não tinha o que fazer... a minha mãe nem ligava mais. A cueca roxa do meu pai já era de domínio público. E publico não faltava: pra aplaudir e também pra apreciar, né, Genésia?

*nome fictício (arrasei, né? vai que dá processo???)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A overdose de Papais Noéis de chocolate

Ontem fui conhecer o Açaizeiro, aqui em Piracicaba, e joguei a toalha, ao pedir uma taça grande de açaí trufado. É imensa de grande, e acabei deixando a metade.

Isso me fez lembrar uma história de quando eu tinha uns 6 anos de idade. Meu pai também vendia doces na casa do norte, e um dia comprou uma caixa de Papai Noel de chocolate pra vender. Eram lindos! Tinha amarelo, verde, vermelho e azul. Fiquei encantado com aquilo, e logo, queria todos para mim. Eram uns 25 na caixa.

Passei o dia todo "brincando" com eles, esperando só o momento certo de dar o bote em um. Meu pai se distraiu, comi um. Foi atender um cliente, comi outro. Começou a jogar baralho com os amigos, aí eu fui comendo, comendo, comendo. Até que comi os 25!!!! Me esbaldei no chocolate - e acho que foi naquele dia que virei chocólatra! Eu fiquei totalmente narcotizado... ria sozinho, rodava, deitava no chão com as pernas prá cima (ainda acontece isso hoje quando como muito chocolate).

Meu pai estava tão empolgado com o baralho (e também já tinha tomado altas biritas), que nem percebeu o meu banquete. Fomos prá casa, e eu, ainda sob o efeito do chocolate, fui dormir.

Acordei no meio da noite com uma dor de barriga absurda... acho que tanto chocolate formou uma massa na minha barriga, que eu fiquei até com febre! A minha mãe não entendia o que estava acontecendo, e me perguntava o que eu estava sentindo... até que resolvi confessar prá ela que tinha cometido um genocídio com aqueles pobres papais noéis de chocolate.

Chocada com a minha confissão, mandou a minha irmã na farmácia comprar uma caixa de supositórios de glicerina.

Doeu mais na honra do que no "bumbum", propriamente dito,  deixar a minha mãe colocar aquele mini supositório em mim. Depois daquela situação humilhante, degradante, para um menino de 6 anos fui dormir.

Quando de repente, cerca de meia hora depois, eu acordo com a minha barriga fazendo um barulho estranho, e movimentos que mais pareciam um alien se mexendo. Corri em direção ao banheiro, mas era tarde demais... os destroços do "acidente" foram ficando no caminho, e quando me sentei na privada, já não tinha mais nada. Resumindo, caguei na calça - e no chão também.

Naquele dia aprendi que com chocolate não se brinca - com papais noéis de chocolate, principalmente.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A primeira desilusão amorosa - PARTE FINAL

Deu prá segurar a curiosidade? Pois aí vai a segunda - e pior parte - da historinha de ontem.

Depois de passar alguns dias chorando e perguntando "Por que?", o tempo foi passando e a dor diminuindo, até sumir. Nunca mais tinha visto a Ana Paula*, quando um dia, aos 25 anos, estava eu no ônibus indo trabalhar e quem aparece na minha frente: sim, a Ana.

Com um grande sorriso, senta-se do meu lado e começamos a conversar, contando as coisas engraçadas que passamos na escola. Como andar de ônibus em SP demora no mínimo 1h30, deu prá conversar bastante. Ela contou sobre seu irmão, que havia falecido, contou sobre a faculdade, sobre sua mãe... até que chegamos no assunto pendente: o grande "POR QUE".

Eu perguntei se ela tinha lido a cartinha, ela riu e disse que sim. Aí perguntei: "Se você leu a cartinha, por que naquele dia você começou a namorar com o Paiol? Todo mundo tava comentando, e eu fiquei arrasado na época."

Então ela me contou o que aconteceu


Naquele dia que coloquei a cartinha na mochila dela, ela só a encontrou quando chegou em casa. Feliz, por ler O QUE HÁ ANOS AGUARDAVA, ficou muito feliz e perguntou para a mãe dela se podíamos namorar, o que a mãe dela aprovou.


No dia seguinte, escolheu a melhor roupa, o melhor perfume, e foi toda bonita me encontrar, para me dar o SIM tão esperado.
No caminho, encontrou o Paiol*, que a cumprimentou e conversou assuntos que não tinham nada a ver com namoro.

Quando foi ao meu encontro, no horário marcado, estranhamente eu a evitei, cumprimentando apenas a Silvânia*, e virando a cara pra ela. Naquele dia ela ficou muito mal, foi pra casa e chorou muito, e por dias perguntou "Por que?"


Hoje entendo... sabe POR QUE? Porque encontrei o meu amor bem longe, em Piracicaba, e deixei tudo prá viver com ela.


*nomes fictícios, para preservar a identidade das pessoas em questão.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A primeira desilusão amorosa

Conheci a Ana Paula* na primeira série. Nós dois éramos do grupo dos mais inteligentes da sala. Os dois usávamos óculos, sentávamos na frente, e concorríamos para ser o coordenador de classe - cargo que revezávamos a cada nova eleição.

Estávamos sempre juntos. Afinal, como eu, ela também era rejeitada pelos outros por ser nerd. E foi assim até a quarta-série, quando ela começou a mudar, ficar mais moderninha, fazer outras amizades e por fim, decidir mudar-se de escola.  Eu fiquei em pânico! A minha melhor amiga, com quem eu me identificava tanto, estava indo embora... com o choque, acabei descobrindo - ou assumindo - que nesses quatro anos juntos, eu sempre fui apaixonado por ela.  Só que parecia tarde demais, pois ela já tinha feito a transferência para a outra escola e já estava tendo aulas lá... e agora, o que eu ia fazer? 

Uma amiga em comum - outra nerd chamada Silvânia* - me contou que no dia seguinte, a Ana Paula iria nos fazer uma visita, e aí encontrei a chance de me declarar para ela. Porém, eu sempre fui muito tímido, então resolvi escrever uma cartinha me declarando e a pedindo em namoro. 

No dia seguinte, lá estou eu, com a cartinha no meio do caderno, esperando a Ana chegar. Ela chegou, e reuniu todos os alunos da sala em volta dela, afinal ela era a menina corajosa, que decidiu mudar de escola, e talz.... estava se tornando popular. Eu ali do lado, tentando uma chance, esperando um momento de distração para colocar a cartinha na mochila dela. Ela se levanta e vai até o pátio, e encontro ali a minha chance. Coração na garganta, respiração ofegante, mãos tremendo, corro, abro o zíper na mochila e consigo depositar a cartinha! Missão cumprida, era agora ou nunca!

Na cartinha, além da declaração, eu a pedia em namoro e, caso ela aceitasse, combinei que ela me procurasse na escola no dia seguinte às 16h15 (horário do intervalo), para conversar. Ansioso como sou, não consegui nem dormir direito naquela noite. 

No dia seguinte, me arrumo todo, passo perfume, visto a minha melhor roupa e vou para escola, preparado para o grande dia. 
Logo que chego na escola, o que vejo: Ana Paula e o menino mais bonito e badalado da escola - Flávio Paiol* - conversando no portão. Meu mundo caiu (como na música de Maysa). Fiquei muito arrasado. Ao entrar na sala de aula, encontro todos comentando que a Ana Paula estava quase namorando o Paiol (agora sim, ela estava assumindo definitivamente o posto de "a popular". 

Fiquei muito triste, nem prestei atenção na aula. Na hora do intervalo, horário marcado para conversar, saí para o pátio, e vi que na minha direção vinha Ana Paula e Silvânia. Com o coração apertado, sentindo o gosto amargo da primeira desilusão amorosa, cumprimentei: "Oi, SILVÂNIA", e fingi não ver Ana Paula. Passei direto e fui, rumo ao desconhecido. Ao chegar em casa chorei muito, desiludido e pensando que não sobreviveria a tamanha dor.

**CONTINUA....


*nomes fictícios, para preservar a identidade das pessoas em questão.

** sei que dá ódio em quem lê, mas sempre quis usar esse artifício para deixar as pessoas mais curiosas pelo que está por vir, e as obrigando a voltar ao meu blog!!!!! Prometo que vou fazer o possível para não fazer mais isso!!!