segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Junior e a MONGA

Vocês já ouviram falar na Monga ?  Monga é uma mulher que vira macaca. No filme "Lisbela e o Prisioneiro" aparece uma cena contando o "segredo da Monga".

Um dia, eu tinha uns 5 ou 6 anos, apareceu o "Ônibus da Monga" no meu bairro. Era um ônibus desses cde viagem mesmo, só que com todas as janelas lacradas e escuras, prá a gente não ver o que acontecia lá dentro.

Aí eles faziam um show com uma mulher de biquini, dentro de uma jaula, que se tornava macaca. Veja no vídeo como funciona:






Pois é... todos na rua falavam que a Monga tinha comido a orelha de um menino, arrancado o braço de outro... e com esses boatos, a cada dia mais a fila para ver a mulher macaca aumentava. Lembro que custava uma moeda de cinquenta centavos de cruzeiro, uma moeda enorme, que todas as crianças colocavam na boca e engasgavam. Eu enchi o saco da minha mãe durante dias, e ela falava que não ia desperdiçar dinheiro ,porque eu não ia aguentar ficar lá dentro vendo a monstra. Vencida pelo cansaço, resolveu me levar mas fez a ameaça: "Eu vou te levar, seu cabeçudo, mas você vai ter que ficar até o fim". Ok, com medo, mas sem vergonha, eu aceitei.

Lá estávamos nós dois, debaixo de sol, naquela fila enorme... a cada multidão que saía chorando, gritando, meu coração ficava mais apertado. Mas eu não podia perder aquilo, tinha que ser forte.

Chegou a nossa vez... naquele ônibus escuro, fedido e quente, só dava para ver uma jaula no fundo, com uma moça triste, de biquini dentro. Ela tinha cabelos curtos, e não nos olhava no rosto.

Aí começa a narração: "Ela é uma  moça linda, delicada, mas quando fica nervosa, se torna a Monga - a mulher-macaca! Não se preocupem, a jaula é forte, resistente, e ela não consegue sair".
Mas a gente já sabia que era mentira. Ela ia sair de lá e acabar com a vida de algum de nós.

As luzes do ônibus escurecem mais, mais e mais, até que o único lugar iluminado naquele momento era a jaula da Monga. De repente, ela começa a se transformar... vai ficando escura... pelos vão crescendo em seu corpo...

Eu fui ficando desesperado, em total pânico, e comecei a soltar a mão da minha mãe. Ela não soltava a minha mão de jeito nenhum. Aí se abaixou e disse: "Você me fez gastar dinheiro e te trazer aqui, vai ficar até o fim". Era a minha sentença de morte. Eu ia morrer ali, junto com a minha mãe e com todas aquelas pessoas. Já estava definido o meu futuro, na minha grande cabeça de criança. Mas eu não podia desistir. Resolvi lutar pela minha sobrevivência: Mordi a mão da minha mãe, mas mordi tão forte, que ela acabou soltando.

Só que era tarde demais. A Monga já tinha completado a sua transformação, e com toda a sua fúria e força, arrancou as grades de sua jaula e veio em nossa direção, buscando sangue, carne humana, a orelha ou o braço de alguém (que eu tinha certeza que seria EU).

Todos correram ao mesmo tempo, num misto de pânico, desespero e luta pela vida. Todos corremos em direção à porta, e ficamos entalados. Naquele momento eu já não sabia mais onde estava a minha mãe, e me conformava em tê-la perdido para sempre... ninguém saía, ninguém entrava, de tão entalado que estávamos na porta... Alguém nos empurra forte, de dentro do ônibus para fora, e todos caímos na rua. Minha mãe sai, toda suada, dando risada... me pega pela mão e vamos embora...

No dia seguinte, mais notícias de um caso bárbaro: a Monga havia arrancado o nariz de um menino.

Ainda bem que não era o meu!

Um comentário:

  1. foi muito bom aquele dia!!eu fiquei entalada na porta e achei super engraçado,mas na hora foi pânico total!!nos eramos muito bobos!!desci os tres degraus do onibus sem precisar pisar no chaõ!

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