quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Meu tio matou meu bode

Na casa do norte, meu pai sempre fazia comidas típicas do nordeste, prá agradar a clientela.
Tinha buchada, sarapatel, caldo de mocotó, tatu, capivara, cobra, coelho, lagarto (é, esses calangos do mato mesmo), jacaré... todas iguarias apreciadas pelos meus ascendentes  cabeça-grande (genética que eu herdei, inclusive).

Uma vez voltei da escola com a Eliane, quando deparamos com um bode amarrado no portão de casa. De cara, nos apaixonamos pelo bode! Ele era lindo, com aquela barbinha fina, tipo office-boy... aquele olhar lânguido  e aquele semi-sorriso nos lábios (já reparou que bode tem um "sorriso Monalisa"?).

Ficamos muito felizes, pois acabávamos de ganhar um novo bicho de estimação. E um bichinho super exótico, diga-se de passagem... colocamos nome no bode (nem lembro que nome, devia ser algo como Bééééé), fizemos carinhos nele, fizemos planos de vida juntos. Até ali, estava tudo muito lindo.
Esquecemos um pouco o bode e entramos em casa, prá tomar banho, comer, assistir TV, essas coisas da vida de criança... de repente, ouvimos algo como uma tacada de beisebol. Corremos no quintal e quando vimos, meu tio Tonho havia matado o bode, com uma tacada na cabeça.
"ASSASSINO!!!!!" Nós gritávamos, entre soluços de desespero. "Você matou o nosso bode de estimação!!".

O algoz, logo foi se defendendo: "Mas que bode de estimação, que nada... seu pai comprou esse bode prá matar mesmo, prá fazer buchada, carne cozida, essas coisas".

Choramos muito naquele dia, pois já tínhamos desenvolvido um amor muito grande pelo nosso bode.
No fim daquela tarde, o couro do bode estava estendido no quintal, prá secar, enquanto a minha mãe limpava as tripas e órgãos internos do bode para aquele banquete maléfico.
No menu tinha: buchada,  churrasco de bode, carne cozida, tripa frita e o pior: a cabeça inteira do bode cozida, com olhos e tudo, que eram disputados entre os convidados. Meu pai, o anfitrião, comeu um. O outro não sei prá barriga de quem foi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário