quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Os Silva na praia de Perequê

Todo o final de ano, a nossa vizinha umbandista fazia uma "excursão" para a praia de Perequê. Uma praia de pobre mesmo, de "pilinferia". Aquela coisa farofa com areia, véia de biquini, criança com diarréia...

Ela aproveitava que ia fazer seus "trabalhos de fim de ano", alugava um ônibus, e para aproveitar, chamava a rua toda prá encher ônibus, com a desculpa de que era apenas uma excursão.

E um dia, lá fomos todos nós na excursão para a praia de Perequê. O ônibus cheio daquelas mulheres gordas, todas de branco, e aquela cantoria "étnica" toda...  e a gente lá, "os crente", no meio disso tudo.

Ainda no ônibus, o Bruno, que ainda era bebê de colo e sempre foi muito fraquinho, ficou com diarréia... ainda lembro que a minha mãe foi a viagem inteira trocando as fraldas dele, tadinha...

Depois de muito sufoco, cantoria, cheiro de cocô e muito mais, chegamos já de manhã. Todo mundo trocando de roupa na rua mesmo, doidos prá entrar no mar. Detalhe: era só ônibus e praia. Não tinha hotel, hospedaria, pensão, barraca, nada. Quem quisesse, que levasse sua sombrinha.

A Eliane e eu sumíamos na praia, e a minha mãe ficou com os dois pequenos - Rodrigo e Bruno - sofrendo na areia...

Neste meio tempo, demos falta do meu pai... "cadê o Zé?", era a frase de ordem da minha mãe. Rodrigo chorando, Bruno cagando, Dida chorando, Eliane e eu reclamando e o meu pai DESAPARECIDO!

As horas foram passando, as macumbeiras já tinham feito todo o trabalho e era hora de ir embora... todo mundo vestindo a roupa por cima do biquini e sunga, todo mundo queimado de sol, com as virilhas assadas de areia e água salgada... e nada do Zé aparecer. A minha mãe já tava chorando, se sentindo "a viúva do Perequê"

Ônibus cheio, todo mundo reclamando querendo ir embora e nada do Zé... até que um amigo apareceu gritando: "Achei o Zé, mas preciso de ajuda". Corremos até ele, que nos levou ao meu pai: bêbado, caído em uma moita. Parecia aqueles doces de mocotó: rosa de um lado e branco do outro.

Ele tava tão bêbado que caiu e dormiu na moita, embaixo de sol. Caiu de bruços, então só queimou as costas. Não sabia se ria ou chorava, vendo o meu pai branco na frente e vermelho nas costas.

Levantamos o "elemento", que não tinha força nenhuma nas pernas e só gritava "ai, ai", por causa das queimaduras...

E essa foi UMA das histórias de praia da família Silva!

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