quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Todo domingo meu pai virava o Silvio Santos!

Todo domingo o meu pai bebia bastaaante... quebrava o caneco! Mas não era só domingo não, ele bebia todo dia. Mas no domingo ele mandava ver mesmo... E VIRAVA O SILVIO SANTOS!

Pois é... parecia que ele tinha bebido uma poção mágica. Ficava rico, empolgado. Só faltava o microfone pendurado no pescoço.

A criançada da rua já sabia disso, e todo mundo esperava a hora...Quando era umas duas da tarde,  já incorporado do Homem do Baú, ele subia na varanda de casa e gritava: "QUEM QUER DINHEIROOOOOOOOOOOOOOOOO???"






A criançada ia ao delírio - quer dizer, criançada não, porque uns marmanjos se infiltravam entre os pimpolhos - e ficava naquela expectativa de quanto ele ia jogar dessa vez.

Nos bolsos do Zé, quer dizer, do Silvio Santos, notas e mais notas de R$1,00 (naquele tempo existia nota de um real). Algumas poucas de R$10,00, dependendo do humor e do público do dia.

Ele pegava um montão de cada vez, e não eram aviõezinhos não... ele amassava mesmo, tipo "dinheiro de bêbado" (tipo não... ERA dinheiro de bêbado), e jogava.

Gritaria, emoção, gente caindo... assim como acontece no Topa Tudo por Dinheiro há tantos anos. Todo mundo puxando dinheiro da mão do outro... e ele rindo. Daí vinha a segunda, terceira, quarta rodada. Quando já não tinha mais dinheiro, ele jogava balas e chicletes.. e o público ia diminuindo aos poucos - afinal,  eles queriam DINHEEEEIRO!!!!

Aí, sem ibope, ele ia deitar no sofá. Eu, nada bobo, perguntava: "Pai, você é rico?". Ele: "Claro, muuuito rico". E eu: "Mentira, você é pobre". E ele, nervoso: "Claro que sou rico, sou rico sim. Quanto você quer?"
Eu, mais do que empolgado, já soltava: "Duvido que você tem uma nota de R$50,00".
Ele, já contrariado: "Claro que eu tenho". Essa era a minha deixa: "Se você é rico mesmo, então me dá esses R$50,00", na maior "vibe" tentação no monte.


Ele, fazendo cara de desdém, pegava R$50,00 bem novinha e me dava: "Tó aí essa porcaria... tenho muitas!"
E eu ia, todo feliz, guardar meu dinheirão. Agora EU é que estava rico.

Mas, assim como a riqueza dele durava pouco, a minha também durava.

No dia seguinte, logo de manhã, ele falava: "Devolve os R$50,00". E eu, dando uma de "advogado do diabo": "Ué... mas não falam por aí que bêbado não lembra do que faz?
Ele: "Cala a boca e devolve".

Eu devolvia e esperava o próximo domingo, quando Silvio Santos voltaria e a aquela nota também voltaria ao meu bolso. Por pouco tempo, eu sabia, mas, quem sabe um dia ele não se lembrasse mesmo...?

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